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Caetano Veloso




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Альбом Caetano Veloso


Circuladô (1991)
1991
1.
2.
3.
4.
Boas Vindas (feat. Gilberto Gil)
5.
Ela ela
6.
7.
8.
9.
10.
O Cu do Mundo (feat. Gal Costa and Gilberto Gil)
11.
. . .


Vapor barato
Um mero serviçal
Do narcotráfico
Foi encontrado na ruína
De uma escola em construção...

Aqui tudo parece
Que era ainda construção
E já é ruína
Tudo é menino, menina
No olho da rua
O asfalto, a ponte, o viaduto
Ganindo prá lua
Nada continua...

E o cano da pistola
Que as crianças mordem
Reflete todas as cores
Da paisagem da cidade
Que é muito mais bonita
E muito mais intensa
Do que no cartão postal...

Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem
Mundial...(4x)

Escuras coxas duras
Tuas duas de acrobata mulata
Tua batata da perna moderna
A trupe intrépida em que fluis...

Te encontro em Sampa
De onde mal se vê
Quem sobe ou desce a rampa
Alguma coisa em nossa transa
É quase luz forte demais
Parece pôr tudo à prova
Parece fogo, parece
Parece paz, parece paz...

Pletora de alegria
Um show de Jorge Benjor
Dentro de nós
É muito, é grande
É total...

Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem
Mundial...(4x)

Meu canto esconde-se
Como um bando de Ianomâmis
Na floresta
Na minha testa caem
Vem colocar-se plumas
De um velho cocar...

Estou de pé em cima
Do monte de imundo
Lixo baiano
Cuspo chicletes do ódio
No esgoto exposto do Leblon
Mas retribuo a piscadela
Do garoto de frete
Do Trianon
Eu sei o que é bom...

Eu não espero pelo dia
Em que todos
Os homens concordem
Apenas sei de diversas
Harmonias bonitas
Possíveis sem juízo final...

Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem
Mundial...

. . .


circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de
fulô e ainda quem falta me dá
soando como um shamisen e feito apenas com um arame
tenso um cabo e uma lata velha num fim de festafeira no
pino do sol a pino mas para outros não existia aquela música
não podia porque não podia popular aquela música se não
canta não é popular se não afina não tintina não tarantina e
no entanto puxada na tripa da miséria na tripa tensa da mais
megera miséria física e doendo doendo como um prego
na palma da mão um ferrugem prego cego na
palma espalma da mão coração exposto como um nervo
tenso retenso um renegro prego cego durando na palma
polpa da mão ao sol
circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
porque eu não posso guiá eviva quem já me deu
circuladô de fulô e ainda quem falta me dá
o povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro
da maravilha no visgo do improviso tenteando a travessia
azeitava o eixo do sol
circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
porque eu não posso guiá eviva quem já me deu
circuladô de fulô e ainda quem falta me dá
e não peça que eu te guie não peça despeça que eu te guie
desguie que eu te peça promessa que eu te fie me deixe
me esqueça me largue me desamargue que no fim eu acerto que
no fim eu reverto que no fim eu conserto e para o fim me
reservo e se verá que estou certo e se verá que tem jeito e se
verá que está feito que pelo torto fiz direito que quem faz
cesto faz cento se não guio não lamento pois o mestre que
me ensinou já não dá ensinamento
circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie
porque eu não posso guiá eviva quem já me deu

. . .


Nosso amor resplandecia
Sobre as águas que se movem
Ela foi a minha guia
Quando eu era alegre e jovem
Nosso ritmo, nosso brilho
Nosso fruto do futuro
Tudo estava de manhã
Nosso sexo, nosso estilo
Nosso reflexo do mundo
Tudo esteve Itapuã
Itapuã
Tuas luas cheias
Tuas casas feias
Viram tudo, tudo
Inteiro de nós
Itapuã
Tuas lamas algas
Almas que amalgamas
Guardam todo, todo
O cheiro de nós
Abaeté
Essa areia branca
Ninguém nos arranca
É o que em Deus nos fiz
Nada estanca Itapuã
Ainda sou feliz
Itapuã
Quando tu me faltas
Tuas palmas altas
Mandam um vento a mim
Assim: Caymmi
Itapuã
O teu sol me queima
E o meu verso teima
Em cantar teu nome
Teu nome sem fim
Abaeté
Tudo meu e dela
A lagoa bela
Sabe, cala e diz
Eu cantar-te nos constela em ti
E eu sou feliz
Ela foi a minha guia
Quando eu era alegre e jovem

. . .


Sua mãe e eu
Seu irmão e eu
E a mãe do seu irmão
Minha mãe e eu
Meus irmãos e eu
E os pais da sua mãe
E a irmã da sua mãe
Lhe damos as boas-vindas
Boas-vindas, boas-vindas
Venha conhecer a vida
Eu digo que ela é gostosa
Tem o sol e tem a lua
Tem o medo e tem a rosa
Eu digo que ela é gostosa
Tem a noite e tem o dia
A poesia e tem a prosa
Eu digo que ela é gostosa
Tem a morte e tem o amor
E tem o mote e tem a glosa
Eu digo que ela é gostosa
Eu digo que ela é gostosa
Sua mãe e eu
Seu irmão e eu
E o irmão da sua mãe

. . .

Ela ela

[Нет текста]

. . .


Santa Clara, padroeira da televisão
Que o menino de olho esperto saiba ver tudo
Entender certo o sinal certo se perto do encoberto
Falar certo desse perto e do distante porto aberto
Mas calar
Saber lançar-se num claro instante

Santa Clara, padroeira da televisão
Que a televisão não seja o inferno, interno, ermo
Um ver no excesso o eterno quase nada (quase nada)
Que a televisão não seja sempre vista
Como a montra condenada, a fenestra sinistra
Mas tomada pelo que ela é
De poesia

Quando a tarde cai onde o meu pai
Me fez e me criou
Ninguém vai saber que cor me dói
E foi e aqui ficou
Santa clara

Saber calar, saber conduzir a oração
Possa o vídeo ser a cobra de outro éden
Porque a queda é uma conquista
E as miríades de imagens suicídio
Possa o vídeo ser o lago onde narciso
Seja um deus que saberá também
Ressuscitar

Possa o mundo ser como aquela ialorixá
A ialorixá que reconhece o orixá no anúncio
Puxa o canto pra o orixá que vê no anúncio
No caubói, no samurai, no moço nu, na moça nua
No animal, na cor, na pedra, vê na lua, vê na lua
Tantos níveis de sinais que lê
E segue inteira

Lua clara, trilha, sina
Brilha, ensina-me a te ver
Lua, lua, continua em mim
Luar, no ar, na tv
São francisco

. . .


Demonstrando a minha fé
Vou subir a Penha a pé
Pra fazer uma oração
Vou pedir à padroeira
Numa prece verdadeira
Que proteja o meu baião
Penha, Penha
Eu vim aqui me ajoelhar
Venha, venha
Trazer paz para o meu lar
Nossa Senhora da Penha
Minha voz talvez não tenha
O poder de te exaltar
Mas dê bênção, padroeira
Pra essa gente brasileira
Que quer paz pra trabalhar
Penha, Penha
Eu vim aqui me ajoelhar
Venha, venha
Trazer paz para o meu lar

. . .


Preta chique, essa preta é bem linda
Essa preta é muito fina
Essa preta é toda a glória do brau
Preta preta, essa preta é correta
Essa preta é mesmo preta
E é democrata social racial
Ela é modal
Tem um gol que ela mesma comprou
Com o dinheiro que juntou
Ensinando português no Central
Salvador, isso é só Salvador
Sua suja Salvador
E ela nunca furou um sinal
Isso é legal
E eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu
E eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu sem ela
E eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu
E eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu sem ela
Nobreza brau
Nobreza brau
Nobreza brau
Nobreza brau
Preta sã, ela é filha de lansã
Ela é muito cidadã
Ela tem trabalho e tem carnaval
Elegante, ela é muito elegante
Ela é super elegante
Roupa Europa e pixaim Senegal
Transcendental
Liberdade, bairro da Liberdade
Palavra da liberdade
Ela é Neide Candolina total
E a cidade, a baía da cidade
A porcaria da cidade
Tem que reverter o quadro atual
Pra lhe ser igual
E eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu
E eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu sem ela
E eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu
E eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu sem ela
Nobreza brau
Nobreza brau
Nobreza brau
Nobreza brau

. . .


Oco de pau que diz:
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, tristriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira
Água da palavra
Água calada pura
Água da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai
Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio viu, vi
O que niguém jamais olvida
Ouvi ouvi ouvi
A voz das águas
Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai
Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai

. . .


O furto, o estupro, o rapto pútrido
O fétido seqüestro
O adjetivo esdrúxulo em U
Onde o cujo faz a curva
(O cu do mundo, esse nosso sítio)
O crime estúpido, o criminoso só
Substantivo, comum
O fruto espúrio reluz
À subsombra desumana dos linchadores

A mais triste nação
Na época mais podre
Compõe-se de possíveis
Grupos de linchadores

. . .


Coisa linda
É mais que uma idéia louca
Ver-te ao alcance da boca
Eu nem posso acreditar
Coisa linda
Minha humanidade cresce
Quando o mundo te oferece
E enfim te dás, tens lugar
Promessa de felicidade
Festa da vontade
Nítido farol, sinal
Novo sob o sol
Vida mais real
Coisa linda
Lua lua lua lua
Sol palavra dança nua
Pluma tela pétala
Coisa linda
Desejar-te desde sempre
Ter-te agora e o dia é sempre
Uma alegria pra sempre

. . .


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